Iene em queda: como o Carry Trade desvalorizou a moeda do Japão

Neste texto você vai aprender:

No dialeto das finanças, o carry trade é uma estratégia onde os investidores tomam empréstimos em uma moeda com uma baixa taxa de juros e investem em determinados ativos em uma moeda com taxas de juros mais altas. O objetivo, assim, é rentabilizar o dinheiro com a diferença entre essas taxas de juros. 

Embora possa gerar lucros significativos, o carry trade também exerce uma influência considerável tanto nas nações que fornecem as moedas de baixo custo quanto naquelas que atraem os investimentos (taxa de juros elevada).  

👀 Vamos ver como esse tipo de operação afeta as economias globais de maneira complexa. 

A primeira coisa a entender sobre essa operação é que ela não é uma transação simples, mas uma estratégia de longo prazo que se aproveita das discrepâncias nas políticas monetárias dos países envolvidos na operação.  

Aplicação prática: a busca pelo iene japonês ou o franco suíço (que possuem uma baixa taxa de juros) para “financiar” a compra de outras moedas em países que possuem uma taxa de juros mais elevada, geralmente países com a economia emergentes ou com maior percepção de risco.

Alguns exemplos de países que historicamente ou recentemente apresentaram taxas de juros mais elevadas: 

 

País 

Fator de Risco 

Brasil 

Inflação, dívida pública e instabilidade política 

México 

Inflação, instabilidade política e Dependência de importações (especialmente dos EUA) 

Rússia 

Sanções internacionais, volatilidade cambial e riscos geopolíticos 

Turquia 

Inflação, déficit fiscal e instabilidade política 

 

Mesmo o conceito parecendo algo simples, existem diversos riscos envolvidos nesse tipo de operação. Dentre eles os principais são as variações no valor das moedas (depreciação/apreciação), crises financeiras e riscos geopolíticos podem eliminar os lucros obtidos com as diferenças nas taxas de juros, visto que impactam diretamente a taxa de câmbio dos países. 

Ilustrando as consequências dos países que são utilizados para essa operação: quando um grande volume de uma moeda é emprestado ou vendido, essa operação pode por consequência trazer a depreciação do câmbio. ↘️

Por outro lado, países que tem sua moeda como o “alvo” do carry trade podem ter uma apreciação da sua taxa de câmbio. ↗️ Essa situação, embora possa ser benéfica para os importadores por reduzir o custo de mercadorias/bens estrangeiros, pode prejudicar os exportadores por tornar os produtos do país mais caros para o mercado global. 

Carry Trade com ou sem hedge cambial? 

Existem duas categorias de carry trade: com proteção cambial (hedge) e sem proteção cambial. As principais diferenças entre um carry trade com e sem hedge cambial estão relacionadas ao nível de risco e potencial de retorno. 

👉🏼 Carry trade sem hedge cambial 

  • Maior risco: o investidor fica exposto às variações na taxa de câmbio. Se a moeda do país onde o capital foi investido se desvalorizar, o lucro pode ser reduzido ou até se transformar em prejuízo. 
  • Potencial de lucro mais alto: ao não proteger a operação contra variações cambiais, o investidor pode obter um retorno maior se a moeda do investimento se valorizar. 
  • Exposição ao mercado cambial: as flutuações de câmbio afetam diretamente o resultado da operação. 

👉🏼 Carry trade com hedge cambial 

  • Menor risco: o investidor se protege contra as variações cambiais, minimizando o impacto de uma possível desvalorização da moeda. 
  • Menor retorno: o hedge tem um custo, que pode reduzir o lucro da operação. 
  • Estratégia mais conservadora: ideal para quem busca reduzir a exposição ao risco cambial, sacrificando parte dos ganhos em troca de mais segurança. 

 

Como o Japão foi prejudicado pela operação de carry trade 

A estrutura econômica do Japão, é de longe uma das mais complexas e fascinantes atualmente, visto que enfrenta diversos problemas em relação a uma estagnação econômica e até pouco tempo atrás, uma deflação. 

Devido às suas taxas de juros extremamente baixas, especialmente após a crise financeira global de 2008, o iene (JPY) se tornou uma das moedas mais usadas para financiar essas operações. Essa demanda elevada pelo empréstimo de ienes levou a uma pressão contínua sobre a moeda japonesa. O resultado disso foi a desvalorização do iene, o que trouxe uma série de implicações negativas para a economia japonesa, impactando desde o custo de importações até a competitividade das exportações. 

A seguir, exploramos os principais efeitos dessa prática no Japão. 

➡️ Aumento do custo das importações: com o enfraquecimento do iene em relação a outras moedas, o Japão começou a sentir um aumento significativo nos custos das importações. Como o Japão depende muito de importações para suprir suas necessidades internas, essa desvalorização por consequência aumentou a pressão sobre os preços internos, o que, por sua vez, afetou o custo de vida da população. 

➡️ Pressão inflacionária: embora o Banco do Japão tenha tentado combater a deflação por muitos anos, a desvalorização do iene devido ao carry trade trouxe uma inflação inesperada, principalmente via aumento dos preços das importações. Essa inflação foi, em grande parte, não controlada, e não trouxe o crescimento econômico desejado, mas sim um aumento nos custos para os consumidores e empresas japonesas. 

➡️ Competitividade das exportações: já a desvalorização do iene de começo favoreceu as exportações japonesas, tornando os produtos japoneses mais competitivos nos mercados globais (por serem mais baratos). Por outro lado, as empresas que dependiam de itens ou matérias-primas que eram importados para fabricar seus produtos acabaram enfrentando aumentos de custos, o que diminuiu os benefícios do iene mais fraco para muitas indústrias. 

➡️ Volatilidade financeira para o Japão: movimentos de saída de capital ocorrem sempre que há mudanças significativas nas expectativas de taxas de juros globais, e justamente isso foi o que contribuiu para instabilidades nos preços dos ativos no Japão 

O Short Recovering do século 

“O Banco do Japão aumentou a taxa de juros em um movimento inesperado na data de 31/07/2024 e revelou um plano detalhado para desacelerar sua compra maciça de títulos públicos e dando mais um passo em direção à eliminação gradual de uma década de grande estímulo.”  CNN Brasil, Link 

Em julho de 2024 o Banco do Japão (BoJ) elevou sua taxa de juros para 0,25%, marcando uma mudança significativa em sua política monetária, que há muito tempo era caracterizada por juros extremamente baixos ou negativos. Essa elevação teve um impacto imediato no mercado, que demonstrou um efeito manada através de um Short Recovering, o que resultou em cerca de 66-80% das posições vendidas JPY sendo cobertas (tendo a recompra da moeda japonesa). 

Mas qual o impacto do Short Recovering? 

Primeiro, vamos à definição: “short recovering” refere-se à recuperação de uma posição vendida (short). Quando um ativo que foi alvo de posições vendidas (ou seja, investidores apostaram na queda do preço) começa a se valorizar, pode ocorrer o que se chama de “short covering” ou “short recovering”, que é o fechamento dessas posições. Isso acontece quando os investidores que estavam vendidos compram de volta o ativo para limitar suas perdas ou realizar lucro, o que pode causar uma alta adicional no preço do ativo devido à pressão compradora. 

Esse movimento é comum em momentos de recuperação inesperada de ativos após quedas, forçando os vendedores a saírem de suas posições. Foi exatamente isso que aconteceu com a moeda japonesa, e gerou uma pressão compradora no mercado. Isso elevou o preço do ativo rapidamente, especialmente quando muitos investidores estavam cobrindo suas posições ao mesmo tempo. Isso impactou diretamente no preço do USD/JPY, dado que a recompra de iene japonês aprecia o valor da moeda.  
 
Em resumo: muitos investidores recompraram iene japonês para tentar sair com o menor prejuízo possível no carry trade. 

Técnica em prática 

Para você entender profundamente como as operações de carry trade funcionaram no Japão, montamos um exemplo completo e com as devidas análises sobre a operação abaixo.  

Utilizamos como exemplo a estratégia carry trade sem hedge cambial, a qual foi a mais utilizada perante os investidores institucionais para a execução desse tipo de operação no Japão ao longo dos anos. Sendo assim, partiremos para a execução: 

carry trade

Etapas do Carry Trade

1️⃣ Empréstimo em JPY

  • Valor: JPY 160.000.000. 
  • Juros anuais: 1% 
  • Dívida após 1 ano: JPY 160.000.000 * 1.01 = JPY 161.600.000. 

2️⃣ Conversão para USD

  • Taxa de câmbio spot no início: 1 USD = 160 JPY. 
  • Valor convertido: JPY 160.000.000 / 160 = USD 1.000.000. 

3️⃣ Investimento em USD

  • Investimento: USD 1.000.000 em títulos do Tesouro dos EUA com rendimento de 5,50% ao ano 
  • Valor após 1 ano: USD 1.000.000 * 1.055 = USD 1.055.000. 

4️⃣ Conversão de volta para JPY

  • Taxa de câmbio spot no final: 1 USD = 150 JPY. 
  • Valor convertido: USD 1.055.000 * 150 = JPY 158.250.000. 

5️⃣ Resultado Final

  • Valor a ser pago (empréstimo + juros): JPY 161.600.000. 
  • Valor recebido: JPY 158.250.000. 
  • Saldo: JPY 158.250.000 – JPY 161.600.000 = -JPY 3.350.000. 
  • Perda em USD: -JPY 3.350.000 / 150 = -USD 22.333,33. 

Neste caso, a apreciação do JPY (queda de USD/JPY de 160 para 150) resultou em uma perda de US$ 22.333,33, apesar do retorno positivo do investimento em USD. 

Impacto da Valorização ou Desvalorização do JPY (Iene Japonês): 

  • Se o JPY se desvalorizar (USD/JPY sobe), há um ganho, porque mais JPY são recebidos ao converter o investimento de volta. 
  • Se o JPY se valorizar (USD/JPY cai), há uma perda, pois o custo para a recompra da moeda japonesa é maior que o valor ganho na rentabilidade do Juros. 

O Carry Trade é amplamente utilizado no mercado financeiro como uma estratégia que visa capturar ganhos com a diferença entre taxas de juros de países. Embora, esse tipo de operação possa oferecer retornos atrativos, os investidores enfrentam riscos cambiais substanciais, especialmente se não adotarem estratégias de hedge para proteger suas posições. 

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O que são?

Um fundo de investimento é uma aplicação financeira que reúne recursos de diversos investidores, com o objetivo de investir esse capital em um conjunto diversificado de ativos financeiros. Esses ativos podem incluir ações, títulos de dívida, imóveis, moedas estrangeiras, entre outros.

A administração e a gestão do fundo são feitas por um gestor profissional, que toma decisões de investimento visando maximizar os rendimentos e minimizar os riscos para os participantes.

Por que investir?

01. Gestor profissional
Contratação dos serviços de um gestor profissional para rentabilizar investimentos.

02. Baixo custo de operação
Baixo custo de operação de investimentos.

03. Estratégias avançadas
Acesso a uma infinidade de estratégias.

Pra quem?

Por englobarem todas as possibilidades de estratégias do mercado financeiro, são indicados para todos os tipos de investidores.

O que varia serão os perfis de risco dos fundos que comporão a carteira conforme as necessidades, expectativas e possibilidades de cada investidor.

O que é?

O Tesouro Direto é um Programa do Tesouro Nacional desenvolvido em parceria com a B3 para venda de títulos públicos federais para pessoas físicas, de forma 100% online. Lançado em 2002, surgiu com o objetivo de democratizar o acesso aos títulos públicos.

Além de acessível e de apresentar muitas opções de investimento, tem uma boa rentabilidade e liquidez diária, sendo a aplicação de menor risco do mercado.

Por que investir?

01. Segurança
Ativos 100% garantidos pelo Tesouro Nacional.

02. Variedade
Opções conforme os seus objetivos.

03. Fácil acesso
Não é preciso um aporte muito grande para começar

Pra quem?

Na verdade, o Tesouro Direto é indicado para todos os investidores.

Como os demais ativos de renda fixa, até mesmo os investidores mais arrojados podem utilizar os títulos do Tesouro Nacional para sua reserva de emergência e para buscar maiores rentabilidades no mercado secundário.

O que são?

Ações representam uma pequena parte na sociedade de uma grande empresa. Ao adquirir uma, você se torna sócio daquele negócio e recebe os proventos proporcionais à sua participação.

Ao deter esses papeis, o investidor passa a receber dois tipos de pagamentos: dividendos e juros sobre capital próprio. Os valores dependem do lucro gerado pela empresa.

Por que investir?

01. Longo prazo
Rendimentos esperados maiores em prazos longos, frente à baixa rentabilidade atual dos ativos de menor risco.

02. Renda Recorrente
Possibilidade de obtenção de renda recorrente, através de dividendos e juros sobre capital próprio.

03. Diversificação
Possibilidade de construir um portfólio com variados níveis de risco e volatilidade e adaptar rapidamente a carteira em caso de mudanças no mercado.

Pra quem?

Ações são indicadas para quem tem perspectiva de retornos de médio e longo prazo e tem maturidade para entender que quedas são naturais e que é necessário ter um acompanhamento constante do portfólio, seja pelo próprio investidor ou por um assessor profissional.

Ao contrário do senso comum, ações não são apenas para investidores agressivos e arrojados – carteiras de perfil moderado também podem fazer uso delas. O mercado de capitais é muito vasto e é versátil, sendo possível elaborar composições variadas de ações.

O que é?

Ativos de renda fixa são aqueles cujas regras de rendimento são definidas antes de sua aquisição. Na hora de investir, você já se sabe quais são o prazo e o critério de remuneração do ativo.

Os principais investimentos desta classe são CDBs, CRAs e CRIs, as LCAs e as LCIs, debêntures e títulos do Tesouro Nacional.

Por que investir?

01. Segurança
As regras de rendimento são definidas antes de sua aquisição.

02. Previsibilidade
Na hora de investir, já se sabe o prazo e o critério de remuneração do ativo.

03. Variedade de ativos
As opções permitem a diversificação de estratégias.

Pra quem?

Apesar de serem ativos conservadores, são indicados para todos os investidores. Para aqueles que priorizam a segurança do capital e preferem retornos mais estáveis, a renda fixa é uma ótima escolha. Ela garante que o investidor não será surpreendido por grandes oscilações no valor do investimento.

Mesmo aqueles mais arrojados podem utilizar a renda fixa para sua reserva de emergência e para buscar maiores rentabilidades no mercado secundário.

O que são?

Os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) são fundos que captam recursos de investidores e procuram obter rentabilidade no mercado imobiliário.

Isso é feito através de incorporação de empreendimentos, compra de lajes de corporativas, residências e galpões logísticos para aluguel ou até mesmo compra e venda de direitos de crédito e dívidas do setor.

Por que investir?

01. Isento de Imposto de Renda
Recebimento de renda mensal, isenta de imposto de renda.

02. Renda mensal
Possibilidade de investir em imóveis sem precisar administrá-los.

03. Não imobilização do patrimônio
Poder investir em imóveis sem imobilizar o capital.

Pra quem?

Os FIIs são indicados para quem deseja obter renda mensal a partir de seus investimentos e para quem pretende investir em imóveis a partir de pequenos valores.

Uma de suas principais características é que eles precisam distribuir aos cotistas pelo menos 95% dos rendimentos recebidos em sua operação todos os meses, o que faz com que sejam um excelente ativo para obtenção de renda recorrente.