Taiwan é um país estratégico tanto pela sua posição geográfica quanto pelo seu papel na economia mundial. A pequena ilha no leste da Ásia controla hoje mais de 80% da produção mundial de chips e semicondutores. Esses materiais são a base para a fabricação de produtos de alta tecnologia. Ou seja, o mundo inteiro depende dessa indústria, seja para produzir computadores, instrumentos médicos ou até aviões.
Nas últimas semanas, Taiwan se tornou o epicentro de um conflito internacional de grandes proporções. A pressão sobre a ilha tem o potencial de desencadear uma guerra entre as maiores potências globais, a China e os Estados Unidos. Mas a situação chegou nesse nível? Vamos te explicar a partir de agora.
Taiwan: pivô de um conflito geopolítico
No início do mês de agosto, a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, esteve em Taiwan por 24 horas. Essa foi a primeira visita oficial de um representante do alto escalão do governo norte-americano desde 1997, quando o então presidente da Câmara, o republicano Newt Gingrich, foi à ilha.
A viagem fez parte de uma turnê diplomática pela Ásia, que incluiu paradas em Singapura, Malásia, Coreia do Sul e no Japão. Mas apenas a possibilidade da visita a Taiwan já havia despertado trocas de ameaças entre os governos chinês e norte-americano.
A China classificou a ação como provocação e, logo após a saída de Pelosi, anunciou sanções a Taiwan. As retaliações incluem a suspensão de importações de itens como frutas e produtos de pesca, além de exercícios militares perto da ilha e a paralisação de exportações de areia natural para Taiwan.
A importância histórica de Taiwan
A ilha asiática costumava ser uma colônia holandesa e foi controlada pelo Japão até a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, foi tomada pela China, cujas fronteiras ficam a apenas 180 quilômetros de distância. Nesse mesmo ano, uma guerra civil começou na China.
As tropas do capitalista Chiang Kai-shek lutaram contra as forças comunistas de Mao Zedong até 1949. Os representantes do capitalismo, derrotados, refugiaram-se em Taiwan. Desde então, ambos os países continuam em conflito.
Na verdade, a maior parte do mundo não considera Taiwan um país, nem mesmo os Estados Unidos. Apenas 15 nações fizeram esse reconhecimento até hoje. Para a China, a ilha é uma província rebelde.
Inclusive, em 2005, o Partido Comunista chinês aprovou uma lei que prevê “medidas não pacíficas” caso Taiwan tente se tornar independente da China continental. Porém, mesmo sob ameaças de um ataque militar, a pequena ilha conseguiu se tornar um gigante global no setor de tecnologia.
O avanço tecnológico e a potência financeira
Taiwan é considerado um dos poucos lugares do mundo que promoveu uma evolução econômica tão significativa. Nas últimas décadas, a ilha fez a transição de uma economia baseada em recursos naturais e mão de obra barata para uma economia baseada em conhecimento e produtos com alto valor agregado.
Hoje, empresas taiwanesas dominam dois terços do mercado global de chips semicondutores. Apenas a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), empresa de processadores avançados, controla 84% da produção mundial.
Taiwan também tem um papel importante no comércio internacional. Empresas da região, como Evergreen, Yang Ming Marine e Wan Hai, são responsáveis por cerca de um décimo da capacidade global de transporte. Além disso, a ilha controla dois dos maiores portos do mundo: Kao-hsiung e Taipei.
Todas essas características tornam Taiwan uma grande potência financeira. O país tem o maior número de ações de tecnologia listadas em sua Bolsa de Valores.
O que está em jogo no conflito Taiwan-China-EUA
Produtos de alta tecnologia representam mais de dois terços das exportações taiwanesas. Além de eletroeletrônicos, o país fornece items como equipamentos mecânicos, produtos ópticos e médicos, e até componentes em fibra de carbono para bicicletas.
Atualmente, a China é o maior parceiro comercial de Taiwan, com cerca de 26% do volume total. E é justamente a China que ameaça invadir a ilha.
O segundo maior parceiro, os Estados Unidos, soma 13% do comércio. O atual presidente, o democrata Joe Biden, já anunciou que está disposto a apoiar Taiwan no caso de uma invasão chinesa.
A produção tecnológica de Taiwan é imprescindível para a economia mundial. Por isso, as duas maiores potências globais querem defender a sua posição na ilha. Mas essas são também duas potências nucleares. Com as relações internacionais já abaladas pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, um conflito dessas proporções poderia levar até mesmo ao início de uma terceira guerra mundial.
Um novo ponto de tensão entre o Ocidente e o Oriente
Apesar de serem mutuamente os maiores parceiros comerciais, a diplomacia entre Estados Unidos e China é sempre delicada. As relações entre os dois países vem endurecendo desde o mandato do presidente Donald Trump.
O republicano impôs novas tarifas a bens chineses e deu início a uma guerra comercial cujo fim ainda não está em vista. O principal objetivo do ex-presidente era reverter a liderança da China na balança comercial entre os dois gigantes. Há anos, a China acumula superávit e ameaça tomar a posição norte-americana como maior potência econômica mundial.
Segundo a sócia da Faz Capital, Renata Barreto, a discussão sobre medidas protecionistas não é simples. A economista alerta para o fato de que o mundo todo se tornou muito dependente da China nas últimas décadas. E, apesar das vantagens financeiras, nações como os Estados Unidos precisam considerar também outros fatores nos seus parceiros comerciais.
Para Renata, é impossível ignorar a relação entre a mão de obra barata e o desrespeito aos direitos humanos na China. Além de registros recentes de campos de concentração e políticas de limpeza étnica, o país asiático acumula flagrantes de roubo de propriedade intelectual.
De acordo com a economista, a situação é muito difícil. Mas, em algum momento, o mercado mundial vai precisar decidir como lidar com a China em suas trocas comerciais.
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