Já pensou em investir para chegar a uma carteira de renda de R$ 10 mil por mês com dividendos? Os investidores têm se acostumado a ver cada vez mais informações sobre obter renda recorrente de sua carteira e atingir a liberdade financeira. Isto acontece porque nunca foi tão acessível ao investidor médio fazer exatamente isso: aplicar para receber renda passiva.
Ficou tão fácil que proliferam nas redes sociais carteiras de renda e mapas de dividendos que podem simplesmente ser copiados e replicados pelo investidor. O que geralmente não se fala é que não basta que o portfólio pague os mais altos valores mensais possíveis. É vital que a estratégia respeite o tripé de investimentos: liquidez, rentabilidade e risco.
Vamos abordar aqui como elaborar uma carteira de renda que proporcione R$ 10 mil por mês. Além disto, a estratégia apresentada busca não apenas proporcionar rentabilidade, mas proporcionar diversificação e liquidez.
O foco da estratégia é somente na rentabilidade? Cuidado
O foco destas estratégias costuma ser na rentabilidade, que é o aspecto, digamos, mais direto de se analisar. Basta escolher um ativo que tradicionalmente paga bons dividendos e investir nele. O fundo imobiliário HGCR11, por exemplo, pagou mais de 1% de renda líquida todos os meses este ano. A expectativa é de que continue pagando isto por um bom tempo.
Basta então colocar dinheiro neste fundo e colher os frutos da renda passiva até atingir uma carteira de renda de R$ 10 mil por mês. Estratégia fácil, não é? Obviamente, não é tão simples assim e uma abordagem como esta deixaria o investidor imensamente vulnerável a apenas um ativo, um gestor e um setor.
Diversificação é a chave… mas diversificação de verdade, com inteligência
Bom, se colocar tudo no mesmo fundo imobiliário não serve, vamos diversificar os fundos. O mais comum hoje em dia é ver carteiras prontas de FIIs com foco em dividendos. A ideia é boa, então vamos explorá-la.
Se um fundo apenas concentra muito o risco, diversos deles, com foco em mercados e locais diferentes, ajuda a mitigar possíveis perdas. No nosso exemplo aqui, vamos ilustrar com 5 fundos imobiliários.
São eles: BTLG11, de ativos logísticos, e KNCR11, RBRR11, HGCR11 e MCCI11, de recebíveis imobiliários. Com uma distribuição destas, o risco não fica mais concentrado em apenas um ativo. Além disto, diversifica os investimentos em diferentes regiões e diferentes gestores.
Os fundos imobiliários de recebíveis são bastante versáteis e podem reagir com agilidade aos sabores do mercado. Se preciso, migram entre diferentes estratégias de forma rápida.
Já o fundo de ativos logísticos, como imóveis para armazéns, varejo e plantas industriais, tem foco em investimentos físicos. Isso quer dizer que ele compra, constrói e possui os imóveis nos quais investe, e por isso é chamado de “fundo de tijolo”.
Então, basta pegar todo o seu dinheiro, dividir por cinco e colocar cada parte em um destes fundos e pronto, certo? Errado novamente. A combinação destas categorias de fundo já contribui para a diversificação da carteira, mas não basta. Afinal de contas, com todo o dinheiro alocado na mesma classe de ativos, o investidor fica vulnerável a mudanças que os impactem como um todo. Um exemplo de risco aqui seria a recorrente proposta de tributar os dividendos dos fundos imobiliários. Eles são um dos poucos investimentos que têm isenção de imposto de renda no Brasil, mas propostas não faltam para tributar dividendos de FIIs.
Se somente FIIs não bastam, que outras opções buscar?
Já diversificamos dentro de uma classe de ativos, os FIIs. Agora, vamos buscar variedade em outras classes.
Por alguns séculos a mais comum forma de receber renda passiva, as ações de empresas listadas em bolsa de valores não podem faltar. Analisar a qualidade de uma ação é uma atividade muito complexa, mas nesta classe de ativos, em nossa estratégia de renda, um aspecto é primordial: o dividend yield. [futuro link para um artigo sobre dividend yield e dividend payout]
Em resumo, ele é o percentual sobre o valor de uma ação pago ao acionista a título de proventos (dividendos e juros sobre capital próprio). Empresas com altos percentuais de dividend yield são as que o mercado chama de “boas pagadoras de dividendos”.
Não somente as elétricas
Por muito tempo, as companhias elétricas listadas em bolsa foram consideradas as principais “ações de viúva”. Este é o apelido para as empresas cuja cotação da ação oscila pouco, mas que pagam proventos com regularidade e bom volume. Isto ainda é verdade para diversas empresas do setor elétrico, então incluímos algumas delas no nosso exemplo de carteira de renda recorrente. São elas a Copel S.A. (CPLE6) e a Engie Brasil S.A. (EGIE3).
Setor bancário também entra
Além delas, vamos incluir um ativo do setor bancário, o Banco do Brasil (BBAS3). O setor bancário é tradicionalmente superavitário, gerando lucro até mesmo em momentos de crise sistêmica. Isto torna empresas do setor atrativas para nossa estratégia de renda.
Sem deixar as gigantes de fora
Por fim, vamos acrescentar duas titãs do mercado de commodities brasileiro, a Petrobras (PETR4) e a Vale (VALE3). Além de ser as duas mais representativas empresas da bolsa de valores brasileira, ambas têm um diferencial importante. Como participantes do mercado global de petróleo e minérios, respectivamente, elas têm suas receitas em dólares. Isto pode ser uma tremenda vantagem em momentos de crise, nos quais a nossa moeda, o real, tende a se desvalorizar.
Juntas, CPLE6, EGIE3, BBAS3, PETR4 e VALE3 formam um diversificado combo para a geração de renda recorrente. Apesar de não pagarem dividendos com a mesma regularidade, a combinação gera renda com frequência para a estratégia. Além disto, diversifica os investimentos entre os setores de energia, bancário, petróleo e minério, agregando proteção ao portfólio.
Ainda não está suficientemente diversificada
Não, não basta pegar os 10 ativos mencionados até agora e colocar 10% do seu patrimônio em cada um. Ainda faltam alguns elementos para tornar a estratégia realmente robusta. Portanto, vamos para a próxima classe de ativos para a nossa carteira de renda de R$ 10 mil por mês: a renda fixa com cupom semestral.
A renda fixa não é necessariamente um investimento que não oscila, que não fica negativo, mas aquele cuja rentabilidade é acordada no momento da contratação. Se encaixam nessa classe principalmente os títulos do governo, além de títulos bancários e crédito privado.
Uns dos grandes benefícios de contar com estes ativos na carteira é a previsibilidade. Se carregados até o vencimento (não forem vendidos antes do prazo acordado), pode-se saber exatamente que rentabilidade teremos na maioria deles.
Dito isto, vamos focar aqui em ativos com pagamento de cupom. São aqueles que, além de remunerar através de um índice pré-acordado (como o IPCA, por exemplo), pagam periodicamente valores diretamente na conta do investidor. Assim, através de uma combinação de diversos deles, é possível ter juros creditados na conta mensalmente.
Atualmente, há ativos de renda fixa com pagamento médio de mais de 6% ao ano, com o principal corrigido pela inflação. Com um mix de títulos do Tesouro, ativos bancários e crédito privado, nossa carteira ganha em diversificação de risco e proteção contra altas de preços.
Está quase pronta, mas falta a cereja do bolo
Como mencionamos, é bem comum encontrar carteiras de renda prontas – praticamente todas as corretoras têm a sua. No entanto, um aspecto que raramente é contemplado nelas é a liquidez. Vai que, enquanto você aproveita a renda mensal dos seus investimentos, precisa utilizar um valor maior. O prejuízo pode ser grande caso os ativos mencionados acima sejam resgatados no momento errado.
Pensando nisto, a última parte da nossa carteira conta com uma boa parcela (20% do total) em ativos de liquidez diária. Estes são os que podem ser resgatados imediatamente sem deságio. Os mais comuns são o Tesouro Selic, fundos DI e fundos simples. Assim, em caso de algum imprevisto, o investidor tem disponível uma parte relevante do seu dinheiro pronta para usar.
Como distribuir sua carteira de renda de R$ 10 mil de forma ideal
Com isto, concluímos o racional da carteira de renda que gera R$ 10 mil em conta todos os meses. Falta apenas atribuir e distribuir valores entre as diferentes categorias. O valor necessário para executar esta estratégia é de R$ 1.500.000. Eis a distribuição conforme o racional da carteira:
O mercado financeiro é muito dinâmico e os ativos mencionados acima podem ser diferentes de uma semana para outra. Portanto, não recomendamos replicar uma carteira com os mesmos ativos. Os exemplos citados também não devem ser considerados uma recomendação de investimento. O objetivo aqui é mostrar que uma carteira de renda sofisticada vai muito além de meramente pagar um bom valor mensal. É preciso considerar também a segurança dos ativos, a diversificação de risco e a disponibilidade de recursos em caso de necessidade extraordinária.
Caso queira replicar a estratégia para você, o ideal é contar com o acompanhamento de um profissional do mercado. Ele fará as adaptações necessárias e analisará as opções do momento que se enquadrem na estratégia sem prejudicar o tripé de investimentos. Ele também vai monitorar o mercado e fazer os ajustes necessários para que a estratégia se mantenha à medida que os ativos disponíveis em determinado momento mudem.
Depois de implementada a estratégia, o seu desafio será decidir se e onde vai gastar os ganhos da sua carteira de renda de R$ 10 mil por mês ou se vai reinvesti-los para aumentar o patrimônio. Mas isto é com você! Tenha uma feliz independência financeira.